Nesta sexta-feira (18), o site covid.gov, que até então reunia informações sobre testes, vacinas e tratamentos contra a Covid-19, passou a redirecionar usuários para uma nova página do governo dos Estados Unidos. A mudança, aparentemente promovida pela gestão do presidente Donald Trump, sinaliza um reposicionamento oficial sobre a origem do coronavírus, com forte ênfase na teoria do vazamento de laboratório.
A nova página, intitulada “Lab Leak — a verdade sobre as origens da Covid-19” (tradução livre), traz uma imagem de Trump em destaque e afirma que a pandemia teria começado a partir de um incidente em um laboratório na cidade de Wuhan, na China. O conteúdo questiona a versão até então apoiada por agências de saúde e pela própria Casa Branca, que indicava uma origem natural do vírus a partir da transmissão entre animais e humanos.
Teorias e disputas políticas em torno da Covid-19
O novo site acusa diretamente o ex-presidente Joe Biden e seu então assessor médico, Dr. Anthony Fauci, de “ocultar” informações sobre o suposto vazamento em laboratório. Segundo o texto, Fauci teria promovido um estudo específico que reforça a teoria da origem natural, ignorando outras possibilidades.
A Casa Branca afirma agora que um vazamento laboratorial é provavelmente a origem da Covid-19, contrariando o consenso majoritário de cientistas que apontam para a transmissão zoonótica como causa mais plausível. Um estudo revisado por pares, inclusive, identificou material genético de animais selvagens em amostras recolhidas no mercado de frutos-do-mar de Huanan, reforçando essa hipótese.
Redirecionamento e exclusão de informações
Além do Covid.gov, outro endereço federal, o Covidtests.gov — antes utilizado para solicitar testes gratuitos — também passou a redirecionar para a nova página. Não está claro exatamente quando a mudança ocorreu, mas registros arquivados mostram que os conteúdos originais estavam disponíveis até pelo menos 10 de abril. A mudança foi notada por Andrew Couts, do Wired.
A substituição desses sites por uma narrativa alinhada ao discurso da nova administração tem gerado críticas. A publicação americana The Verge classificou o novo conteúdo como conspiratório, destacando que ele promove ideias sem respaldo científico e acusa a Organização Mundial da Saúde (OMS) de ceder a pressões do governo chinês.

Divergência entre agências e incertezas persistentes
Em janeiro, a CIA divulgou um relatório indicando que o vazamento laboratorial seria uma possibilidade, mas com “baixa confiança”. Essa classificação indica que as informações disponíveis são insuficientes, contraditórias ou pouco confiáveis. A própria agência havia declarado anteriormente que não tinha dados suficientes para chegar a uma conclusão definitiva sobre a origem do vírus.
Outros órgãos, como o Departamento de Energia e o Departamento de Estado, também mencionaram a hipótese do laboratório, mas sem apresentar evidências conclusivas. Já a comunidade científica tem reiterado que, apesar de ainda haver incertezas, não há indícios sólidos que sustentem a tese de manipulação genética ou vazamento intencional.
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Críticas a medidas tomadas durante a pandemia
A nova versão do site também critica medidas adotadas durante a pandemia, como lockdowns, o uso de máscaras e o financiamento de pesquisas em doenças infecciosas. Um dos focos do conteúdo é a defesa da retomada da moratória sobre pesquisas de ganho de função, que envolvem o aprimoramento de vírus em laboratório para entender seu comportamento.
A OMS segue mantendo todas as hipóteses em aberto, mas ainda considera a origem natural como a explicação mais provável, reiterando que falta acesso a dados completos da China para uma investigação definitiva.