O futebol brasileiro viveu um ano histórico em 2024. Segundo o relatório da Sports Value, os 20 clubes com maiores receitas no país somaram R$ 10,9 bilhões, um crescimento de 21% em relação a 2023. O principal motor desse avanço foi o aumento expressivo nas transferências de jogadores, que geraram R$ 2,9 bilhões — alta de 53%.

Outras fontes de receita também cresceram:

O outro lado da moeda: déficits e dívidas em alta

Apesar da bonança nas receitas, os clubes enfrentaram déficit consolidado de R$ 1 bilhão em 2024. Os custos com futebol subiram para R$ 8,7 bilhões, crescimento de 26% em relação ao ano anterior. A dívida total dos 20 clubes chegou a R$ 12,2 bilhões, com destaque negativo para Corinthians (R$ 1,9 bi), Atlético-MG (R$ 1,4 bi) e Cruzeiro (R$ 981 mi).

Custos com futebol: R$ 8,7 bilhões e o alerta vermelho

Apesar da alta nas receitas, os custos com futebol também dispararam, atingindo R$ 8,7 bilhões — um aumento de 26% em relação a 2023. Isso significa que 80% da receita dos clubes foi consumida apenas com o futebol profissional.

Entre os clubes com maiores gastos estão:

Clube Custo com Futebol (R$ mi) % da Receita
Flamengo 982 74%
Palmeiras 868 68%
Corinthians 760 68%
São Paulo 656 90%
Fluminense 547 80%

Além disso, muitos clubes gastaram mais do que arrecadaram, como Bahia (149% da receita), Fortaleza (107%) e Cruzeiro (106%), todos administrados por SAFs.

Receitas dos Top 20 clubes em 2024

Os principais clubes brasileiros tiveram um recorde histórico de receitas em 2024, R$ 10,9 bilhões. Esse crescimento foi impulsionado principalmente pelas transferências de jogadores, que representaram R$ 2,9 bilhões, além do crescimento em marketing (+36%), bilheteria (+22%) e sócio-torcedor (+17%), de acordo com a Sports Value.

No topo do ranking de receitas estão:

Os demais clubes do top 20 apresentam receitas que vão de aproximadamente R$ 459 milhões (Santos) até R$ 105 milhões (Ceará)

SAFs e clubes tradicionais: todos no vermelho

O modelo de Sociedade Anônima do Futebol (SAF), que prometia profissionalização e equilíbrio financeiro, ainda não entregou resultados consistentes, segundo o relatório da Sports Value. Cruzeiro, Bahia, Vasco e Botafogo SAF apresentaram déficits elevados. Clubes associativos como São Paulo e Corinthians também registraram prejuízos expressivos.

Relação dívida/Superávit e endividamento dos clubes

Apesar do crescimento das receitas, a saúde financeira dos clubes ainda é preocupante devido ao alto endividamento. As dívidas dos 20 principais clubes ultrapassaram R$ 12 bilhões em 2024, um aumento de 22% em relação a 2023, quando o total era próximo a R$ 10 bilhões.

O ranking das maiores dívidas é liderado por:

Clube Dívida (R$ bilhões) Receita (R$ bilhões) Relação Dívida/Receita
Corinthians 1,9 1,115 1,7
Atlético-MG 1,4 0,657 2,13
Cruzeiro 0,98 0,372 2,63
Vasco 0,93 0,474 1,96
São Paulo 0,85 0,732 1,16
Internacional 0,83 0,517 1,6
Palmeiras 0,83 1,274 0,65
Bahia 0,82 0,298 2,75
Santos 0,65 0,460 1,41
Fluminense 0,63 0,684 0,92
Grêmio 0,56 0,509 1,1
Red Bull Bragantino 0,41 0,425 0,96
Flamengo 0,35 1,334 0,26

Esses números mostram que, mesmo clubes com receitas elevadas, como Atlético-MG e Cruzeiro, têm dívidas que superam em muito suas receitas anuais, refletindo desequilíbrios financeiros importantes.

Flamengo lidera as receitas

Entre os clubes brasileiros, o Flamengo é o único a figurar entre os 30 clubes que mais geraram receita no mundo na temporada 2023/2024, com uma receita estimada em 198,2 milhões de euros (cerca de R$ 1,2 bilhão), segundo o estudo “Football Money League” da Deloitte. Essa é a primeira aparição do Flamengo no top 30 desde 1996/1997, destacando a evolução do clube no cenário internacional.

Para efeito de comparação, o líder global, Real Madrid, alcançou receitas superiores a 1 bilhão de euros (aproximadamente R$ 6,4 bilhões), seguido pelo Manchester City e Paris Saint-Germain, que também ultrapassam a casa dos 800 milhões de euros em receitas. O top 10 mundial é dominado por clubes europeus, especialmente da Premier League inglesa, que conta com seis representantes.

No Brasil, os três clubes com maiores receitas em 2024 foram Flamengo (R$ 1,334 bilhão), Palmeiras (R$ 1,274 bilhão) e Corinthians (R$ 1,115 bilhão). Essas receitas incluem direitos de transmissão, premiações, sócio-torcedor, transferências, marketing, bilheteria e outras explorações. O crescimento das receitas de marketing, especialmente com novos contratos de patrocínio, como casas de apostas, foi um dos principais motores do aumento das receitas brasileiras em 2024.

Marketing e digital: oportunidades ainda pouco exploradas

O relatório destaca o crescimento das receitas de marketing, impulsionadas por contratos com casas de apostas. No entanto, a poluição visual nos uniformes e a falta de ativações digitais inteligentes limitam o retorno para patrocinadores.

O ambiente digital também mostra potencial inexplorado. Clubes como Flamengo, Corinthians e Palmeiras lideram em seguidores e interações, mas ainda monetizam pouco suas audiências nas redes sociais. Ou seja, há espaço para crescer e ganhar dinheiro.

Comparação internacional: Brasil perde espaço

Mesmo com o crescimento, o Brasil caiu para a 7ª posição global em receitas recorrentes do futebol, atrás da MLS dos EUA, segundo a Sports Value. A Série A do Brasileirão é superada por Premier League, La Liga, Bundesliga, Seria A (Calcio), Ligue 1. Para se ter uma noção, a Premier League teve receitas de US$ 7,8 bilhões no ano passado, contra US$ 1,4 bilhão do Brasileirão.

A falta de receitas em moeda forte e a baixa presença internacional dos clubes brasileiros são apontadas pela Sports Value como entraves para a competitividade global.

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